Segunda, 7 de julho.

Por que a perda de desconhecidos comove tanta gente? Os casos de Juliana Marins e Diogo Jota escancararam a força do luto coletivo, que transforma tragédias individuais em dor compartilhada. Psicólogos explicam como essa identificação surge e por que pode ser tão intensa. Confira nesta edição!

E mais: o que é compreendido como carisma mundo afora, a vila de pescadores que virou o maior polo de inovação tecnológica da China, a síndrome do tédio no trabalho e a cúpula dos Brics no Rio. Vem começar a semana com a gente!

🕑 Tempo de leitura da edição: 5min57s

CARISMA GLOBAL

O que faz alguém ser “cool” em qualquer lugar do mundo

Uma pesquisa internacional revisada por pares e publicada no Journal of Experimental Psychology, da Associação Americana de Psicologia, indica que a percepção de quem é considerado cool – ou carismático – tem padrões mais universais do que se imaginava. Entre 2018 e 2022, cerca de 6 mil pessoas em países como Estados Unidos, Turquia e Coreia do Sul participaram do estudo, que buscou mapear características associadas à admiração.

Os dados revelam que indivíduos percebidos como “cool” reúnem seis traços principais: são mais extrovertidos, autônomos, poderosos, hedonistas, aventureiros e abertos a experiências.

Ainda assim, o excesso de certas qualidades pode ter efeito inverso: no caso de músicos, por exemplo, um excesso de autonomia – como ignorar totalmente a opinião do público – gerava avaliações negativas, enquanto uma independência moderada – como não tentar agradar a todos – era percebida de forma mais positiva.

O levantamento também sugere que o conceito de cool se tornou mais homogêneo com a globalização da cultura pop. Mesmo em idiomas com alfabetos não latinos, a palavra “cool” é adotada quase sempre com grafia e pronúncia próximas do inglês. A popularização de figuras como Taylor Swift e franquias como os Vingadores contribuiu para essa uniformidade cultural.

Apesar da convergência, ser cool não equivale a ser visto como uma pessoa boa. Traços como calma, acolhimento e conformismo surgiram mais associados a figuras consideradas moralmente positivas, enquanto o carisma foi relacionado a comportamentos que desafiam normas sociais.

MAIOR POLO DE INOVAÇÃO DO PAÍS

De vila de pescadores ao “Vale do Silício chinês”: a transformação de Shenzhen

Shenzhen, hoje com 17 milhões de habitantes, foi uma vila de pescadores com apenas 50 mil moradores até os anos 1980. Foi a primeira Zona Econômica Especial da China, criada para atrair investimentos e estimular a indústria local.

Quatro décadas depois, a cidade ficou conhecida como o “Vale do Silício chinês”, concentrando gigantes como Huawei e Tencent. Esta última desenvolve tecnologias que vão de inteligência artificial a sistemas de pagamento usando a palma da mão, usados por 1,3 bilhão de pessoas.

A paisagem local reúne arranha-céus, ciclovias e a maior ponte marítima do mundo, que liga Shenzhen a Hong Kong e Macau. Apesar das 180 mil câmeras com IA que monitoram ruas e cruzamentos, o trânsito segue caótico.

Com empresas como TCL e BYD ganhando espaço, Shenzhen se tornou símbolo de como a inovação planejada pelo Estado impulsiona o crescimento interno e a ambição global chinesa.

FENÔMENO PSICOLÓGICO

Empatia em massa: entenda o 'luto coletivo' e como ele nos afeta

Os recentes casos de Juliana Marins, jovem que faleceu no vulcão no Monte Rinjani, e Diogo Jota, jogador de futebol que morreu com o irmão em um acidente de carro na Espanha, evidenciaram como o luto coletivo se forma e mobiliza tantas pessoas.

Psicólogos explicam que essa dor compartilhada surge quando uma perda impacta simbolicamente toda a sociedade, despertando identificação e empatia, mesmo sem contato pessoal com a vítima.

Segundo a psicóloga Milena Aragão, a história de Juliana ativou fatores que tornam o luto coletivo mais intenso: a quantidade de informações, o acompanhamento ao vivo e a proximidade emocional que as redes sociais criaram. “Ela era filha, irmã, alguém que nos convidou a sentir junto”, explica.

Casos assim acionam gatilhos profundos: juventude interrompida, vulnerabilidade humana, sensação de injustiça e a ideia de que ninguém está imune ao acaso. Cobertura midiática, homenagens públicas e a exposição constante transformam essas perdas em eventos simbólicos.

Embora funcione como um ritual coletivo de despedida, especialistas alertam que o excesso de exposição pode gerar exaustão emocional e dificultar uma elaboração saudável da dor.

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AUSÊNCIA DE PROPÓSITO

Síndrome de Boreout: quando o tédio no trabalho se torna um problema sério

Descrita pela primeira vez em 2007, a Síndrome de Boreout ganhou destaque nos últimos anos por afetar silenciosamente muitos profissionais. O problema surge da ausência de tarefas estimulantes, levando ao tédio crônico no ambiente de trabalho. Ao contrário do Burnout, causado pelo excesso de demandas, o Boreout está ligado à falta de desafios, propósito e reconhecimento.

Segundo o psicólogo Lucas Tavares Dias, a condição pode gerar baixa autoestima, ansiedade e alteração de humor. Dados da Gallup apontam que 57% dos brasileiros empregados entre 2022 e 2024 não estavam engajados, e 10% eram ativamente não-engajados. Globalmente, 62% relatavam falta de envolvimento.

Para superar o Boreout, especialistas recomendam diálogo com gestores, definição de metas profissionais e busca de novos desafios. Também pode ser importante procurar apoio psicológico e avaliar se o emprego atual ainda faz sentido.

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