Sexta, 9 de maio.

E se o autor de um livro elogiado não existisse? Em Ipnocrazia, Andrea Colamedici usou a inteligência artificial para criar Jianwei Xun — um pensador fictício — e embaralhar nossas certezas sobre autoria, verdade e controle digital. Confira nesta edição.

E mais: o retorno dos livros de colorir, por que aceitamos o vício em trabalho e condenamos outros, obras-primas do cinema italiano que têm fãs aqui na redação. Sextou com o Zat!

🕑 Tempo de leitura da edição: 5min49s

AUTORIA DIGITAL

Livro de filosofia elogiado por críticos foi escrito com IA — e o autor nunca existiu

O filósofo e ensaísta italiano Andrea Colamedici causou alvoroço ao revelar que o autor de seu novo livro, Ipnocrazia: Trump, Musk e a Nova Arquitetura da Realidade, simplesmente não existe. Publicada com o nome do fictício Jianwei Xun, a obra foi apresentada como tradução de um filósofo chinês radicado em Berlim — mas o tal autor era, na verdade, uma criação híbrida de humano e inteligência artificial.

Colamedici, cofundador da editora Tlon, usou IA para gerar ideias filosóficas e depois as confrontou criticamente, criando um ensaio inédito e provocador. Para ele, o livro é uma performance filosófica, pensada para desafiar a percepção de verdade na era digital. “A ideia era provocar uma reflexão sobre como o poder molda a realidade multiplicando narrativas, não reprimindo a verdade”, afirma.

Publicado inicialmente em tiragem limitada, o livro ganhou repercussão após ter sido elogiado pelos críticos e já foi traduzido para três idiomas. Até agora, vendeu cerca de 5 mil exemplares.

Segundo Colamedici, a IA não substitui o pensamento humano — ela o desafia. “Precisamos usá-la como interlocutora, não como oráculo. Sem novos conceitos, nos afogamos no presente.”

COMPORTAMENTO

Por que aceitamos o vício em trabalho, mas condenamos outros?

A psiquiatra americana Anna Lembke, professora da Universidade Stanford e referência internacional em dependência, alerta: a sociedade trata de forma desigual os vícios.

Enquanto drogas ilegais são estigmatizadas, outras compulsões – como vício em trabalho, redes sociais, álcool e remédios prescritos – são amplamente toleradas, embora também possam causar graves prejuízos à saúde mental.

Para Lembke, vivemos o que ela chama de “paradoxo da abundância”: cercados de prazer, estamos cada vez mais infelizes. Nosso cérebro evoluiu para a escassez, e não para o excesso constante de estímulos, o que desregula a dopamina e incentiva comportamentos compulsivos. É essa busca contínua por alívio – seja por likes, doses ou produtividade extrema – que alimenta vícios silenciosos.

Lembke explica que a dependência é multifatorial, influenciada por genética, transtornos mentais e contexto social. Ela defende mais regulação sobre redes sociais, com foco na proteção dos jovens, além de políticas públicas que enfrentem o vício como um problema coletivo – não apenas pessoal.

FENÔMENO EDITORIAL

Colorir volta à moda com traços simples, canetinhas e estética “fofa”

A febre dos livros de colorir voltou, agora com traços simples, cenas fofas do cotidiano e canetinhas no lugar de lápis.

O fenômeno Bobbie Goods, criado pela artista americana Abbie Goveia, viralizou no TikTok e impulsionou editoras brasileiras como HarperCollins, Sextante e Girassol a correrem para lançar versões locais.

A estética “aconchegante e fofa” atrai a geração Z, que busca momentos offline, mas compartilháveis. “No primeiro mês, vendemos 10 vezes o esperado”, diz Alice Mello, da HarperCollins.

Com tiragens que já chegam a 100 mil exemplares, a tendência reforça o desejo por experiências analógicas em tempos digitais.

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ZAT INDICA

Obras-primas do cinema italiano

Emoção, intensidade, almas humanas vistas de perto em sua profundidade. É isso que você encontra nos filmes clássicos italianos, sempre uma ótima pedida para ver ou rever. Mergulhe nesta lista com os preferidos da redação:

Noites de Cabíria (Le Notti di Cabiria, 1957) – Federico Fellini
Uma comovente história sobre Cabíria, uma prostituta romana cheia de esperança e intensidade. (Prime, Mubi)

Ladrões de Bicicleta (Ladri di Biciclette, 1948) – Vittorio De Sica
Um pai desesperado procura sua bicicleta roubada pelas ruas de Roma, enquanto o filho o acompanha. Simples, poderoso e comovente.

A Doce Vida (La Dolce Vita, 1960) – Federico Fellini
Marcello Mastroianni vive um jornalista mergulhado na alta sociedade romana. Um retrato fascinante da decadência, fama e vazio existencial. (Prime, Telecine)

O Leopardo (Il Gattopardo, 1963) – Luchino Visconti
Um épico histórico sobre o declínio da aristocracia siciliana durante o Risorgimento italiano. (Prime)

Mamma Roma (1962) — Pier Paolo Pasolini
Puro lirismo trágico na história da ex-prostituta que sonha com uma vida melhor para o filho. (Prime, Apple TV)

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