Terça, 12 de agosto.

Como as mudanças culturais são moldadas por tendências que nascem das emoções humanas profundas, como medo e desejo de segurança? Conceitos como o “cocooning” mostram que comportamentos aparentemente isolados refletem respostas a contextos maiores, como o isolamento social e a busca por proteção emocional. Confira nesta edição.

E mais: a geografia das facções no Brasil, Japão perde mais de 900 mil habitantes em 2024, maior queda em meio século, será que você está sofrendo de “rust out” no trabalho? Vamos nessa!

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TENDÊNCIAS DE COMPORTAMENTO

O avanço dos “bunkers emocionais” no pós-pandemia

A americana Faith Popcorn, fundadora da consultoria BrainReserve e pioneira no estudo de tendências, afirma que a atual fase é marcada pela criação de “bunkers emocionais” — um isolamento psicológico que vai além do físico. Conhecida por termos como “cocooning” nos anos 1980, Popcorn explica que tendências são correntes silenciosas, distintas de modas passageiras, e respondem a necessidades emocionais profundas.

Sua metodologia combina intuição, análise de dados e leitura de sinais culturais para projetar cenários de 10 a 20 anos à frente.

Originalmente, ela usou o conceito de cocooning para explicar mudanças no comportamento de consumo: as pessoas investindo mais em eletrodomésticos, entretenimento doméstico, decoração e serviços que permitissem viver bem sem sair. O “novo cocooning” envolve microcomunidades, detox digitais e busca por experiências analógicas, como forma de preservar a saúde mental em meio à hiperconexão e à ansiedade.

Para empresas, Popcorn defende que mudanças de comportamento, mesmo quando ameaçam modelos de negócio, podem ser transformadas em oportunidades. Ela cita o caso dos medicamentos GLP-1 — usados para perda de peso —, cuja popularização tende a reduzir o volume de compras de alimentos. Em vez de ver isso apenas como risco, a estratégia foi reconfigurar a oferta, apostando em porções menores, produtos de maior qualidade e experiências alimentares mais satisfatórias, compensando o impacto no faturamento com maior valor percebido pelo consumidor.

Segundo Popcorn, a essência do trabalho não mudou desde os anos 1980 — a curiosidade e a empatia seguem no centro —, mas a tecnologia ampliou a capacidade de rastrear tendências em tempo real, com apoio de inteligência artificial, análise global de sentimentos e monitoramento de inovações emergentes. Para ela, o desafio é construir futuros que sejam emocionalmente ressonantes e nos quais as pessoas queiram viver.

CRIME ORGANIZADO

A geografia das facções no Brasil

Um levantamento de ministérios públicos e governos estaduais identificou 64 facções criminosas em atividade no país. Destas, 12 atuam em mais de um estado, com destaque para o Primeiro Comando da Capital (PCC), presente em 25 unidades da federação, e o Comando Vermelho (CV), em 26. Bahia lidera em número de grupos (17), seguida por Pernambuco (12) e Mato Grosso do Sul (10), este último influenciado por rotas do narcotráfico na fronteira com Paraguai e Bolívia.

O estudo aponta que a expansão do PCC estimulou o surgimento de facções locais, sobretudo no Norte e Nordeste. Há ainda a presença do grupo venezuelano Tren de Aragua, restrita a Roraima.

Especialistas destacam a tendência de “faccionalização”, com organizações controlando territórios, impondo regras a comunidades e estruturando redes de lavagem de dinheiro. Um projeto de lei no Ministério da Justiça propõe enquadrar facções como organizações mafiosas, com penas mais altas e confisco ampliado de bens.

CRISE DEMOGRÁFICA

Japão perde mais de 900 mil habitantes em 2024, maior queda em meio século

O Japão registrou o maior declínio populacional desde o início da série histórica em 1968, perdendo 908.574 habitantes em 2024. Segundo dados oficiais, o país teve 686.061 nascimentos — o menor número desde 1899 — contra cerca de 1,6 milhão de mortes. Isso significa que, para cada bebê nascido, mais de duas pessoas morreram.

O primeiro-ministro Shigeru Ishiba descreveu essa crise demográfica, marcada pelo envelhecimento da população e baixas taxas de natalidade, como uma “emergência silenciosa”. Apesar de políticas como creches gratuitas e horários flexíveis, os esforços para aumentar a natalidade têm tido pouco impacto.

Com quase 30% da população acima de 65 anos, o Japão enfrenta forte pressão sobre os sistemas de saúde e previdência. A população em idade ativa já é cerca de 60% do total.

A imigração, embora em crescimento e com 3,6 milhões de residentes estrangeiros, ainda é um tema delicado. Além disso, fatores culturais e econômicos, como o alto custo de vida, salários estagnados e uma cultura de trabalho rígida, desestimulam a formação de famílias. Mulheres, especialmente, enfrentam desafios sociais para conciliar carreira e cuidado.

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SAÚDE MENTAL

Está se sentindo desestimulado no trabalho? Você pode estar sofrendo de ‘rust out’

O “rust out” é um problema pouco falado, mas cada vez mais presente: o declínio mental e emocional causado por tarefas repetitivas e a falta de desafios no trabalho. Diferente do burnout, que nasce da sobrecarga, o rust out surge da subutilização, levando à apatia, desmotivação e procrastinação.

Pesquisa com formadores de professores no Reino Unido e Irlanda revelou que a burocracia excessiva e a rotina monótona roubam o entusiasmo desses profissionais, que acabam se sentindo presos em funções que não valorizam suas habilidades. Apesar do compromisso com o ensino, muitos relatam “funcionar sem prosperar”.

Essa situação não só compromete a satisfação pessoal como também pode gerar impactos negativos para as instituições, como baixa inovação e dificuldades de retenção de talentos.

Especialistas alertam para a necessidade de reconhecer o rust out como um problema de saúde mental no ambiente de trabalho, valorizando o engajamento e a criatividade para o bem-estar dos funcionários e o sucesso organizacional.

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